Texto retirado do site http://www.projetopequenosguerreiros.com,
enquanto eu buscava novas dicas, orientações, assuntos relevantes aos cuidados
de nossos pequeninos, achei mega interessante... #ficaadica.
Leiam com atenção e reflitam....
As gafes que machucam...
Já faz um tempo que escrevi sobre o nascimento do meu filho. Hoje, o meu príncipe tem um ano e meio e apesar do tempo, das vitórias, das alegrias diárias, de ter a dádiva de poder acompanhar seu desenvolvimento passo a passo, em casa... Ainda assim existem umas feridas abertas, uns doloridos cretinos que ainda me assombram. Aqueles setenta dias no hospital custam a parar de me assombrar. E não foi difícil só no hospital. Na verdade, acredito que pra você, mamãe e papai que comeram grude de hospital, usaram banheiro com baldinho, surtaram tantas e quantas vezes viram seu filho chorar, ter intercorrências e enfim, todo o enredo pavoroso que envolve a prematuridade... Vocês sabem que não é fácil nem quando voltamos pra casa!
Com o tempo passando e tendo mais controle das coisas, sendo mais senhora de mim, com menos hormônios em ebulição, pude analisar com mais frieza aquilo que me magoava. Muito embora, quem fica a nossa volta tente nos animar ou falar e fazer algo de bom acaba piorando muito nosso estado de espírito, ainda que sem intenção. Essas pessoas podem ser os amigos, parentes e até mesmo profissionais.
Pois bem. Muitas vezes os profissionais (com raras exceções) que nos circundam acham que é tudo normal, que nada dói, que nada do que eles falam causam impacto nas mães (principalmente). O problema é que tudo dói e impacta na gente. Certa vez, uma professora do curso de medicina interceptou algumas mães e pediu para que elas fossem até a sala delas (uma sala que parecia expurgo, onde guardávamos nossos pertences, nos alimentávamos e tomávamos banho). Eu estava no meio do bolo. Juro, estávamos todas em jejum, às 10h da manhã, ouvindo ladainha de acadêmicos que decoraram sobre o tal “humaniza SUS”. Eu ouvia aquilo e via o “desumaniza SUS”... Plateia forçada, com fome e um assunto que deveria ser repassado para funcionários e não pacientes... Aquilo me dava à pronta vontade de me dirigir à ouvidoria, CRM, MP, imprensa e se possível à Liga da Justiça, do Capitão planeta! Era patético!!! Enquanto eles falavam, também pediam para que nos pronunciássemos sobre a experiência da prematuridade... Eu falei da dor. Perguntei para eles sobre qual a pior dor física e uns responderam, ortopedia, queimadura... Eu ri (sem deboche) e disse que nada daquilo doía tanto assim. Eu tenho uns parafusos no meu tornozelo. Fiz cirurgias e fisioterapia. Fiquei na bendita cadeira de rodas um verão inteiro e por mais que eu surtasse de dor na época, hoje eu só me lembro do verão, das situações engraçadas que me meti, e não da dor (que não era pouca). Queimei-me na panturrilha, anos depois, e infeccionou... tive febre e foi uó. Doeu pra burro também. E quando engravidei, pensei que se eu tinha passado bem pelas experiências de dor, passaria numa boa pelo parto natural! Era meu pensamento positivo constante para me manter focada no parto natural. Mas tudo deu errado e fui para uma cesárea. Quando penso naquelas dores, mesmo me concentrando eu não sinto mais a dor de antes. Mas basta lembrar o dia que tomei alta, com peitos explodindo de leite e os braços vazios pra reviver tudo muito intensamente. Eu falei isso para aqueles acadêmicos. Uns ficaram paralisados me fitando... Outros eram muito novos e imaturos pra entender o que quer que eu falasse.
Esse foi um dos muitos episódios que me aconteceram e me fazem hoje escrever sobre o que jamais deve ser feito ou dito e ou pelo menos evitado quando se conhece e se é próximo de pais de prematuros.
No SUS, pelo menos na minha vivência, é muito comum encontrar alguns profissionais não tão profissionais assim. Eu tive o prazer de encontrar ótimos profissionais, mas presenciei outros cometerem absurdos. Tipo? Desde pediatra falando para a “mãezinha” planejar outro bebê por que aquele não teria grandes chances (pesado?) como também residente de pediatria entrar na sala e dizer que teve um sonho lindo, que tinha entubado um bebê e que foi lindo! ( bebê entubado é sofrimento, não é lindo!) e só depois de falar sobre o sonho é que ela se tocou que as mães estavam atônitas olhando para ela. Seria menos feio soltar um baita pum na nossa frente. Por mais que o profissional queira se gabar, ou esteja cansado e endurecido pelo cotidiano cinza de uma UTI, não justifica apavorar as mães. Não temos filhos prematuros por que queremos. Isso acontece por uma porção de infortúnios.
Outra coisa que me deixava mordida era o fato de não nos chamarem pelo nome, e sim por “mãezinha”, quase que coisificando a gente, as nossas histórias. Eu tinha uma vontade louca de bradar: “Mãezinha uma pinoia, meu nome é Zé pequeno! ”. Não fui tão longe. Uma pena. Teria sido engraçado. A maioria deles pensa que somos analfabetas (sou formada e falo dois idiomas fluentemente), que temos menos de 20 anos (eu tenho 30!), que todas temos infecção urinária (eu não tive) e que não sentimos dor nem cansaço.
Eu tive sorte de encontrar outros bons profissionais e esses bons estão no meu coração e nas minhas orações. Os outros, eu rezo pra que não precisem de profissionais como eles...
Isso é o tosco que ocorre no hospital! Agora se você está pensando que acaba o “lado trash” por lá... hihihi (risadinha do Nilo). Vamos pro segundo round...
Quando meu bebe nasceu, foi direto pra UTI, depois Unidade Intermediária e por fim, lar doce lar! Na Intermediária, a visita era de meia hora, todo dia, mas ao meio dia. Só iam os que realmente queriam ir e ver o bebe e a “mãezinha” que vos escreve. Meu marido ia quando dava e sofria muito por estarmos longe. Quando fomos para casa, eu estava esgotada, física e espiritualmente, psicologicamente, imunológicamente, e todos os “mentes” possíveis. Eu entendo que todos tivessem curiosidade em saber do bebe, tocar nele e poder ficar perto, mas sinceramente, tudo que a criança e a mãe precisam é de pelo menos uma semana de calmaria e não entra e sai de sua casa. Parece cruel da minha parte, mas alguém aí concorda? A criança não está imunizada, a mãe exaurida de tudo! Convém esperar um pouquinho, não?
Já faz um tempo que escrevi sobre o nascimento do meu filho. Hoje, o meu príncipe tem um ano e meio e apesar do tempo, das vitórias, das alegrias diárias, de ter a dádiva de poder acompanhar seu desenvolvimento passo a passo, em casa... Ainda assim existem umas feridas abertas, uns doloridos cretinos que ainda me assombram. Aqueles setenta dias no hospital custam a parar de me assombrar. E não foi difícil só no hospital. Na verdade, acredito que pra você, mamãe e papai que comeram grude de hospital, usaram banheiro com baldinho, surtaram tantas e quantas vezes viram seu filho chorar, ter intercorrências e enfim, todo o enredo pavoroso que envolve a prematuridade... Vocês sabem que não é fácil nem quando voltamos pra casa!
Com o tempo passando e tendo mais controle das coisas, sendo mais senhora de mim, com menos hormônios em ebulição, pude analisar com mais frieza aquilo que me magoava. Muito embora, quem fica a nossa volta tente nos animar ou falar e fazer algo de bom acaba piorando muito nosso estado de espírito, ainda que sem intenção. Essas pessoas podem ser os amigos, parentes e até mesmo profissionais.
Pois bem. Muitas vezes os profissionais (com raras exceções) que nos circundam acham que é tudo normal, que nada dói, que nada do que eles falam causam impacto nas mães (principalmente). O problema é que tudo dói e impacta na gente. Certa vez, uma professora do curso de medicina interceptou algumas mães e pediu para que elas fossem até a sala delas (uma sala que parecia expurgo, onde guardávamos nossos pertences, nos alimentávamos e tomávamos banho). Eu estava no meio do bolo. Juro, estávamos todas em jejum, às 10h da manhã, ouvindo ladainha de acadêmicos que decoraram sobre o tal “humaniza SUS”. Eu ouvia aquilo e via o “desumaniza SUS”... Plateia forçada, com fome e um assunto que deveria ser repassado para funcionários e não pacientes... Aquilo me dava à pronta vontade de me dirigir à ouvidoria, CRM, MP, imprensa e se possível à Liga da Justiça, do Capitão planeta! Era patético!!! Enquanto eles falavam, também pediam para que nos pronunciássemos sobre a experiência da prematuridade... Eu falei da dor. Perguntei para eles sobre qual a pior dor física e uns responderam, ortopedia, queimadura... Eu ri (sem deboche) e disse que nada daquilo doía tanto assim. Eu tenho uns parafusos no meu tornozelo. Fiz cirurgias e fisioterapia. Fiquei na bendita cadeira de rodas um verão inteiro e por mais que eu surtasse de dor na época, hoje eu só me lembro do verão, das situações engraçadas que me meti, e não da dor (que não era pouca). Queimei-me na panturrilha, anos depois, e infeccionou... tive febre e foi uó. Doeu pra burro também. E quando engravidei, pensei que se eu tinha passado bem pelas experiências de dor, passaria numa boa pelo parto natural! Era meu pensamento positivo constante para me manter focada no parto natural. Mas tudo deu errado e fui para uma cesárea. Quando penso naquelas dores, mesmo me concentrando eu não sinto mais a dor de antes. Mas basta lembrar o dia que tomei alta, com peitos explodindo de leite e os braços vazios pra reviver tudo muito intensamente. Eu falei isso para aqueles acadêmicos. Uns ficaram paralisados me fitando... Outros eram muito novos e imaturos pra entender o que quer que eu falasse.
Esse foi um dos muitos episódios que me aconteceram e me fazem hoje escrever sobre o que jamais deve ser feito ou dito e ou pelo menos evitado quando se conhece e se é próximo de pais de prematuros.
No SUS, pelo menos na minha vivência, é muito comum encontrar alguns profissionais não tão profissionais assim. Eu tive o prazer de encontrar ótimos profissionais, mas presenciei outros cometerem absurdos. Tipo? Desde pediatra falando para a “mãezinha” planejar outro bebê por que aquele não teria grandes chances (pesado?) como também residente de pediatria entrar na sala e dizer que teve um sonho lindo, que tinha entubado um bebê e que foi lindo! ( bebê entubado é sofrimento, não é lindo!) e só depois de falar sobre o sonho é que ela se tocou que as mães estavam atônitas olhando para ela. Seria menos feio soltar um baita pum na nossa frente. Por mais que o profissional queira se gabar, ou esteja cansado e endurecido pelo cotidiano cinza de uma UTI, não justifica apavorar as mães. Não temos filhos prematuros por que queremos. Isso acontece por uma porção de infortúnios.
Outra coisa que me deixava mordida era o fato de não nos chamarem pelo nome, e sim por “mãezinha”, quase que coisificando a gente, as nossas histórias. Eu tinha uma vontade louca de bradar: “Mãezinha uma pinoia, meu nome é Zé pequeno! ”. Não fui tão longe. Uma pena. Teria sido engraçado. A maioria deles pensa que somos analfabetas (sou formada e falo dois idiomas fluentemente), que temos menos de 20 anos (eu tenho 30!), que todas temos infecção urinária (eu não tive) e que não sentimos dor nem cansaço.
Eu tive sorte de encontrar outros bons profissionais e esses bons estão no meu coração e nas minhas orações. Os outros, eu rezo pra que não precisem de profissionais como eles...
Isso é o tosco que ocorre no hospital! Agora se você está pensando que acaba o “lado trash” por lá... hihihi (risadinha do Nilo). Vamos pro segundo round...
Quando meu bebe nasceu, foi direto pra UTI, depois Unidade Intermediária e por fim, lar doce lar! Na Intermediária, a visita era de meia hora, todo dia, mas ao meio dia. Só iam os que realmente queriam ir e ver o bebe e a “mãezinha” que vos escreve. Meu marido ia quando dava e sofria muito por estarmos longe. Quando fomos para casa, eu estava esgotada, física e espiritualmente, psicologicamente, imunológicamente, e todos os “mentes” possíveis. Eu entendo que todos tivessem curiosidade em saber do bebe, tocar nele e poder ficar perto, mas sinceramente, tudo que a criança e a mãe precisam é de pelo menos uma semana de calmaria e não entra e sai de sua casa. Parece cruel da minha parte, mas alguém aí concorda? A criança não está imunizada, a mãe exaurida de tudo! Convém esperar um pouquinho, não?
Pois é..... Brotava
gente do chão, louça suja de todos os lados e o pio, aparecia gente que nunca
ligou pra mim no hospital, nem tinha ido ver meu filho no horário de visita. E
todos perguntando coisas indiscretas como o motivo da prematuridade (no meu
caso eu estava começando essa etapa com a geneticista), e falando coisas do
tipo: “Ah, nem foi tão horrível assim”, ou “Eu sofri muito mais, pois pari e
fui morar com a sogra! ”, até mesmo ”A gente não foi te ver pois não valia a
pena pelo horário”!!!! Sempre tinha um para me contar desgraça, morte infantil,
sofrimento, problemas, coisas negativas, como se não bastasse o que eu já havia
vivenciado no hospital. Gente do meu Brasil, não é porque a mulher pariu um
bebê prematuro que ela tem a obrigação de ouvir sofrimentos, problemas e
lamúrias alheias!!!! Ela já teve a conta suficiente! Se for para se aproximar,
que seja para falar de bobagens, amenidades, sonhos lindos de verdade, coisas
fofas de bebê e lavem a louça que sujarem!!! Não é toda mãe que pode ter
empregada ou contar com ajuda de alguém na casa. Eu tive que lidar com a equação
casa+ marido+ bebê sozinha desde o início! E não me acho super-heroína. Sou
como muitas outras que optaram por deixar a carreira para depois e priorizar o
bebê, que no caso estava precisando muito. Alguém está comigo nessa?
Bueno, Chicas! Antes que chovam comentários me triturando, já vou avisando, admiro quem consegue tocar a carreira junto com a criação e cuidados de um bebê que nasceu antes da hora, mas no meu caso, eu não tive muita escolha. Meu bebe não tinha condições físicas suficientes para encarar uma creche, escolinha ou coisa do tipo.
Enfim. Quando se está próximo de alguém que teve um bebê prematuro, tem que se ter cuidado com aquilo que se fala, que se faz, com as piadas. Os hormônios, o cansaço e as memórias machucam.
Meu marido encarou o mundo sozinho enquanto eu estava no hospital e as pessoas também se esqueciam de levar em consideração aquilo que ele estava sentindo. Ele foi um super parceiro e muito forte. Tempos depois, ele me contou que quando ele contou que o bebe nasceu e que estava no hospital, na UTI, uma pessoa (até hoje não sei quem é) fez a seguinte piadinha: “Agora você vai saber o que é ficar a noite em claro! ” Lógico que ele sabia o que era ficar a noite acordado, pois ele acordava direto pensando que o filho poderia estar chorando, precisando dele ou da mãe. A piada parece inofensiva, mas não é...
Pode ser exagero meu, mas o dedo tem que cutucar a ferida para que esse tipo de comportamento diminua até sumir. Pois é...isso foi parte do que ocorreu comigo, nas minhas andanças pela estrada de tijolinhos dourados da maternidade. E com meus sapatinhos vermelhos, eu posso garantir que “não há lugar como o lar” (quando não surge aquela criatura achando que você tem por que tem que ouvir todos os problemas dela, ainda que você esteja dando de mamar para o seu bebê). Please, Brasil!!!! Vamos poupar as “mãezinhas” de prematuros desses infortúnios desnecessários!
Bueno, Chicas! Antes que chovam comentários me triturando, já vou avisando, admiro quem consegue tocar a carreira junto com a criação e cuidados de um bebê que nasceu antes da hora, mas no meu caso, eu não tive muita escolha. Meu bebe não tinha condições físicas suficientes para encarar uma creche, escolinha ou coisa do tipo.
Enfim. Quando se está próximo de alguém que teve um bebê prematuro, tem que se ter cuidado com aquilo que se fala, que se faz, com as piadas. Os hormônios, o cansaço e as memórias machucam.
Meu marido encarou o mundo sozinho enquanto eu estava no hospital e as pessoas também se esqueciam de levar em consideração aquilo que ele estava sentindo. Ele foi um super parceiro e muito forte. Tempos depois, ele me contou que quando ele contou que o bebe nasceu e que estava no hospital, na UTI, uma pessoa (até hoje não sei quem é) fez a seguinte piadinha: “Agora você vai saber o que é ficar a noite em claro! ” Lógico que ele sabia o que era ficar a noite acordado, pois ele acordava direto pensando que o filho poderia estar chorando, precisando dele ou da mãe. A piada parece inofensiva, mas não é...
Pode ser exagero meu, mas o dedo tem que cutucar a ferida para que esse tipo de comportamento diminua até sumir. Pois é...isso foi parte do que ocorreu comigo, nas minhas andanças pela estrada de tijolinhos dourados da maternidade. E com meus sapatinhos vermelhos, eu posso garantir que “não há lugar como o lar” (quando não surge aquela criatura achando que você tem por que tem que ouvir todos os problemas dela, ainda que você esteja dando de mamar para o seu bebê). Please, Brasil!!!! Vamos poupar as “mãezinhas” de prematuros desses infortúnios desnecessários!
Ainda acho que quando tudo cicatrizar de verdade, eu vou
sair por aí cantarolando “Somewhere over the rainbow” e ainda vou rir de tudo
isso que aconteceu. Espero que esse desabafo sirva para quem tem prematuros por
perto para não cometer gafes como as descritas. Não é preciso ler o livro da
Glória Kalil para ser “chique”. O bom senso é um ótimo professor. Basta não
falar e fazer o que não gostaria que fosse feito ou dito a você (clichê que
funciona).
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