Persistência do canal arterial em recém-nascidos prematuros
O
canal arterial é um largo vaso que comunica a artéria pulmonar com a
aorta no feto. É uma estrutura de grande importância nesse período
da vida, pois uma maior porção do débito ventricular combinado
passa através dessa comunicação à aorta descendente e à placenta.
Isso se deve ao maior volume ejetado pelo ventrículo direito e à
pequena quantidade de sangue direcionado aos pulmões. Esse sangue
contém uma pressão de oxigênio menor que o da aorta.
O
fechamento funcional do canal arterial no recém-nascido a termo
ocorre com 12 a 15 horas de vida, e o permanente, com 5 a 7 dias,
alcançando, em alguns casos, até o 21º dia. No prematuro, o canal
arterial permanece aberto por um período mais prolongado, e a
freqüência da persistência do canal arterial é proporcionalmente
maior quanto mais imaturo for o recém-nascido.O mecanismo da manutenção
da abertura do canal ainda é desconhecido.
A
persistência sintomática do canal arterial é definida pela presença
do sopro cardíaco, pela taquicardia, pelo precórdio hiperdinâmico e
pelo aumento da amplitude de pulso. Este critério, no entanto, não
mostra boa correlação com a repercussão hemodinâmica nos primeiros
dias de vida, que é determinada pela quantidade de sangue desviado da
esquerda para a direita pelo canal arterial. Ademais, o quadro clínico varia com a idade gestacional do recém-nascido.
Assim
como a clínica, o eletrocardiograma e a radiografia de tórax são
exames complementares de pouca efetividade no diagnóstico e na
quantificação da repercussão hemodinâmica do canal arterial. Por
isso, o ecocardiograma tem um papel primordial na condução e no
diagnóstico do canal arterial do recém-nascido prematuro.
Medidas
do ecocardiograma, tais como diâmetro do átrio esquerdo, relação do
átrio esquerdo com o diâmetro da aorta, diâmetro do canal
arterial, padrão de fluxo na aorta descendente e no ramo esquerdo da
artéria pulmonar, têm sido usadas para quantificar o canal arterial.
Essa quantificação é muito importante para a decisão da conduta e
na diferenciação diagnóstica, pois o quadro clínico nesses pacientes
está, na maioria das vezes, sobreposto às alterações pulmonares. A
diferenciação do predomínio entre a repercussão hemodinâmica do canal
arterial e a severidade do comprometimento pulmonar é mais difícil
quanto mais prematuro for o paciente. Outrossim, a mortalidade está
diretamente relacionada aos canais arteriais de repercussão
hemodinâmica.
Os
canais arteriais de repercussão hemodinâmica podem estar associados
também a complicações importantes. A presença de persistência do
canal arterial em prematuro de baixo peso é um risco independente do
desenvolvimento de enterite necrotizante.A prevenção da
prematuridade e o fechamento de canal arterial clinicamente significante
mostram forte evidência de diminuição de ocorrência de casos ou
de severidade de displasia broncopulmonar.O fechamento do canal arterial reduz também o risco de hemorragia pulmonar.
Com
o tratamento atual, seja medicamentoso ou cirúrgico, o prognóstico
desses pacientes tem melhorado significativamente.
O
ibuprofeno também tem sido utilizado na terapêutica dessa anomalia. O
resultado da efetividade tem sido semelhante à indometacina, mas
parece aumentar o risco de doença pulmonar crônica e a hipertensão
pulmonar .
A
utilização de indometacina como tratamento profilático reduz o
número de canais arteriais sintomáticos, a necessidade de cirurgia e
de hemorragia intraventricular grave.
A
mortalidade cirúrgica hoje é extremamente baixa, mas complicações
como pneumotórax e maior incidência de retinopatia de prematuridade
grau II e IV têm sido descritas. Com esse tratamento, o risco de
falência no fechamento do canal diminui significativamente.
Mais
importante do que o tipo de terapêutica a ser adotada é reconhecer o
paciente que deve ser submetido ao tratamento. Isso é fundamental
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