O
dia 17 de novembro foi escolhido como o Dia Mundial da Prematuridade, para
chamar a atenção para um problema que atinge 15 milhões de crianças todos os
anos ao redor do mundo. No Brasil, 340.000 bebês nasceram prematuros só em
2012, segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do SUS e
Ministério da Saúde. Isso significa que nascem 931 prematuros por dia ou 40 por
hora, no Brasil, indicando uma taxa de prematuridade de 12,4%, o dobro do
índice de alguns países europeus.
Esses
partos prematuros acontecem quando a gravidez dura menos de nove meses. Eles
podem ocorrer de forma espontânea ou induzida. A maioria ocorre de forma
espontânea, devido a dois problemas principais: trabalho de parto prematuro e
quando a bolsa das águas rompe antes dos nove meses. Os partos induzidos
ocorrem em situações onde há necessidade de interrupção da gravidez, por
problemas da mãe ou da criança.
Ainda
há muito desconhecimento sobre os mecanismos que desencadeiam o parto prematuro
espontâneo. Com o objetivo de compreender melhor as causas da prematuridade,
preveni-la e tratar suas consequências, doze estudos brasileiros – dois deles
da Unicamp, estão sendo financiados pela Fundação Bill & Melinda Gates, o
Ministério da Saúde e o CNPq. A chamada Grandes Desafios Brasil: Prevenção e Manejo dos
Nascimentos Prematuros, está investindo 8,4 milhões de reais em
pesquisas inovadoras sobre prematuridade desenvolvidas por diversas
instituições do país. As soluções que estão sendo testadas variam de
comprimidos orais de magnésio, que custam 17 centavos cada um e têm o potencial
de reduzir em mais de 20% o risco de um parto prematuro, a pesquisas sobre a
influência da poluição do ar nas taxas de prematuridade em metrópoles como São
Paulo. Eles terão dois anos para desenvolver seus projetos e testar
intervenções que podem ser aplicadas futuramente no sistema de saúde.
Em
outubro, dados de pesquisa inédita coordenada pela Unicamp foram
publicados e podem contribuir para os esforços na redução da prematuridade. O
estudo acompanhou durante um ano mais de 30.000 nascimentos em 20 maternidades
de referência das regiões Sul, Sudeste e Nordeste e apontou os principais
riscos para nascimentos prematuros no país.
Pesquisa apontou que a taxa de
prematuridade foi maior na região Nordeste (14,7%)
(miss.libertine/flickr/Creative Commons)
O
objetivo foi identificar e mapear mais de 100 fatores de risco para parto
prematuro espontâneo e induzido. É, provavelmente, o maior estudo de fatores de
risco gestacionais e pré-gestacionais para o parto prematuro já realizado no
Brasil, com o enfoque obstétrico do problema. Ficaram de fora desses primeiros
resultados, os partos prematuros terapêuticos, aqueles que têm de ser induzidos
porque existe algum problema com a mãe, com o bebê ou ambos, caso da pressão
alta, por exemplo, que serão publicados no ano que vem.
A
taxa média de prematuridade detectada na pesquisa foi de 12,3%, bem parecida
com a evidenciada pelos dados oficiais do país. O índice foi maior na região
Nordeste (14,7%) e menor no Sudeste (11,1%). Quase 80% dos nascimentos
prematuros ocorreram entre a 32ª e a 36ª semana de gestação e 7,4% antes das 28
semanas. Quanto mais prematuro for o parto, maior o risco de morte e problemas
para as crianças que sobrevivem. Para analisar os principais fatores de risco
para o problema, os pesquisadores compararam as condições dos partos prematuros
com as dos nascimentos no tempo certo, ou seja, após as 37 semanas.
Entre
os diversos riscos pesquisados, 14 demonstraram ser importantes indicadores
para a detecção precoce de um nascimento prematuro. Gravidez múltipla (de
gêmeos ou mais bebês), encurtamento do colo do útero, má formação fetal,
sangramento vaginal e menos de seis consultas realizadas durante o pré-natal
são os maiores fatores de risco tanto para mulheres na primeira gestação quanto
para as que já ficaram grávidas antes. Entre as que já tiveram uma gravidez no
passado, parto prematuro e aborto prévio, além do aumento do volume de líquido
amniótico ao redor do feto também devem ser levados em conta. A chance de um
parto prematuro também foi maior entre mães com menos de 19 anos e sem um
parceiro, que fumam e com algumas infecções durante a gestação.
“A
pesquisa mostra que boa parte dos riscos podem ser identificados pela mulher e
pelos serviços de saúde a tempo do médico intervir para ou corrigir os
problemas, ou tentar minimizar suas consequências”, afirma um dos autores do
estudo.
Segundo
o obstetra Renato Passini, do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo
Pinotti" - Caism da Unicamp, riscos como a gravidez múltipla e defeitos na
formação das crianças (malformações fetais) podem ser identificados com um
ultrassom realizado precocemente durante o pré-natal. Caso esses e outros
problemas sejam diagnosticados, pelo ultrassom ou pelo exame clínico da
gestante, as visitas ao médico têm de se tornar mais frequentes e, o
acompanhamento da gestante, ainda mais personalizado. Também é necessário a
presença de profissionais de saúde treinados sobre o que fazer nessas situações
de risco para traçar uma estratégia de prevenção efetiva e orientar as mulheres
sobre comportamentos a serem evitados ao longo da gestação.
Mulheres e médicos devem estar atentos
aos riscos do parto prematuro (Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)
As
gestantes também podem evitar que seu bebê nasça prematuro prestando atenção em
alguns sinais e sintomas. Sangramento por via vaginal, aumento de cólicas e
alguns tipos de corrimento durante a gravidez são sinais de alerta. Quando eles
aparecem, é preciso procurar um médico imediatamente. Mesmo que o sangramento
tenham parado, o médico deve ser informado. “Infecções urinárias como
cistites e pielonefrites são as mais relacionadas ao parto prematuro”, diz
Passini. Alguns tipos de corrimentos podem indicar vaginose bacteriana, outra
causa de prematuridade.
“Mapear
e identificar todos os riscos envolvidos na prematuridade é tarefa difícil, mas
se eles forem do conhecimento da mulher e da equipe de saúde que a está
atendendo, isso pode ajudar muito na prevenção”, afirma Passini. “Com medidas
preventivas, poderemos reduzir os altíssimos custos psíquicos e emocionais e as
complicações que o prematuro pode ter na infância e na vida adulta.
Fonte: http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2014/11/brasil-tem-40-partos-prematuros-por-hora
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