terça-feira, 18 de novembro de 2014

NAS - Estudo realizado pela Enfermagem da Uti-Neonatal do HUOP







Aplicação do Nursing Activites Score (NAS) como instrumento de medida da carga de trabalho da enfermagem na Unidade
 de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do Hospital Universitário
do Oeste do Paraná

Grasiely Masotti Scalabrin Barreto1, Eliane das Graças Dias silva2 , Joanita Poczits Krebs3, Margarida Luzia Piloni4, Maria Salete Duarte de Arruda5, Marivone Verlin6.

1Especialista em Uti-Neonatal pela SOBEP, Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, grasi-barreto@hotmail.com
2 Técnica de Enfermagem do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, elianedias12@hotmail.com
3 Técnica de Enfermagem do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, joanitapk@hotmail.com
4 Especialista em Terapia Intensiva pela Uniderp, Técnica de Enfermagem Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, gpiloni@bol.com.br
5 Graduada em enfermagem pela FAG, Técnica de Enfermagem Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, maariasalete@hotmail.com
6 Especialista em Terapia Intensiva pela Uniderp, Técnica de Enfermagem Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, marivone.verlim@bol.com.br

Ciências da Saúde, Enfermagem

Resumo
 A proposta deste estudo visou correlacionar a carga de trabalho de enfermagem e suas implicações na qualidade da assistência ao paciente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), segundo o Nursing activities Score (NAS) por ser considerado instrumento eficaz, conciso e capaz de mensurar a real carga de trabalho da enfermagem, prestada ao paciente nas 24 horas. O estudo abrangeu todos os recém-nascidos internados de 01/05/2013 a 31/10/2013. Os dados foram coletados pelos pesquisadores através da análise dos prontuários dos recém nascidos. Os dados coletados foram analisados estatisticamente verificando a carga de trabalho existente na unidade, correlacionado com os recursos humanos existentes e o preconizado pelo Cofen e Ministério da Saúde. A amostra total foi de 141 RNs, em 1605 coletas. Os resultados revelam um quantitativo diminuído de profissionais de enfermagem principalmente enfermeiros, uma vez que não atende o preconizado na legislação vigente.


Palavras chaves: Enfermagem, Carga de trabalho, Neonatologia, Dimensionamento da Equipe de Enfermagem.

Introdução
Com o advento do desenvolvimento tecnológico observa-se alterações marcantes na organização do trabalho nas áreas de saúde, principalmente nas unidades hospitalares. De modo que os hospitais se tornaram os grandes consumidores dos recursos destinados à saúde por exercer funções de média e alta complexidade.
As UTIs no Brasil entre as décadas de 60 e 70 aumentaram as chances de sobrevida dos pacientes em virtude da estrutura física e recursos humanos mais adequados. Estas UTIs apresentam alto custo para o sistema de saúde devido a complexidade dos pacientes obtidos pelos elevados escores de gravidade, utilização de equipamentos com alta tecnologia e principalmente recursos humanos altamente qualificados. Para atender a necessidade da manutenção da qualidade da assistência e a diminuição dos custos, foi criado índices e escores para classificar a gravidade dos pacientes, ao passo que inicia-se também a preocupação do dimensionamento da equipe de enfermagem visto ser essa a mais numerosa nas terapias intensivas.De acordo com Oliveira e Spiri 2011, a carga horária excessiva, jornadas de trabalhos alternados, escassez de profissionais são situações que dificultam a prática do cuidado adequado além de gerar absenteísmos tendo como consequência a baixa qualidade do cuidado e a segurança do paciente.Todo esse processo necessita primordialmente de uma renovação no processo de gerenciamento e gestão de recursos humanos. O grande desafio do gerenciamento consiste em conhecer as necessidades de todas as esferas que envolvem o cuidado.
O dimensionamento da equipe de enfermagem foi definida com novos parâmetros através da resolução 293/2004 do Conselho Federal de Enfermagem, devendo ser norteada de acordo com as particularidades de cada serviço de saúde. Ainda determina que na assistência intensiva o paciente demanda de 17,9 horas/paciente para seu cuidado, além de considerar um índice de mais 15% no quadro de funcionários destinados a cobertura de férias e licenças.O NAS mede o tempo de atividades de enfermagem dispensada ao paciente nas 24 horas. A soma de todos os itens NAS quando alcança um escore de 100%, demonstra que houve a necessidade de um profissional de enfermagem por plantão/paciente. (Dias, 2006)
O instrumento NAS é baseado na análise de registros e anotações dos prontuários de pacientes, avaliando retrospectivamente as atividades de enfermagem desenvolvidas, (Queijo in Dias, 2006) sendo que o valor é determinado pela assistência prestada. (Conishi in Dias, 2006)
Os pacientes em unidades críticas requerem intervenções e cuidados de enfermagem específicos, por esta razão, o parâmetro mortalidade/morbidade usado com o resultado da eficácia do trabalho intensivo, foi substituído pela avaliação da carga de trabalho de enfermagem requerida ao paciente em estado crítico. A melhoria da qualidade da assistência impõe-se como um desafio aos profissionais enfermeiros que ainda necessitam efetivar a utilização de instrumentos de trabalho que possibilitem o cuidado humano com qualidade. A qualidade do cuidado de enfermagem significa a melhor forma de atender as condições do usuário, através dos cuidados prestados a ele, levando-se em conta os objetivos, as estratégias e os recursos disponíveis. (PASINI et al, 1996)Os enfermeiros que atuam em unidades críticas, devem ter uma base sólida de conhecimentos e habilidades de pensamento crítico. O pensamento crítico permite a visão do paciente como um grande quadro, analisando os dados que ele apresenta, avaliando os problemas que emergem do ambiente de cuidados críticos e determinando as intervenções apropriadas.

Procedimentos Metodológicos
O estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa de campo de corte transversal prospectivo, descritivo e quantitativo.
O estudo foi realizado na Uti-Neonatal do HUOP, que possui credenciamento para gestação de alto risco, sendo referência para 25 municípios da Regional de Saúde, com a capacidade para 10 leitos.
O estudo ocorreu com os recém-nascidos admitidos na UTIN independente do diagnóstico, tratamento (clínico ou cirúrgico), procedência e idade gestacional por um período de 6 meses consecutivos, compreendido entre 01 de maio à 31 de Outubro de 2013. Todos os RNs internados neste período fizeram parte do estudo, com autorização formal dos pais através do termo de consentimento.
O instrumento aplicado para a coleta de dados para a mensuração da carga de trabalho de enfermagem foi o NAS (traduzido para o português e validado por Queijo (2002) e complementado por Bochenbuzio, (2007). Foi utilizado um instrumento para coleta de dados relacionados a condições sócios demográficos e de nascimento dos sujeitos da pesquisa. Os dados foram coletados pela equipe pesquisadora através da análise dos prontuários dos recém nascidos. Antes de iniciar a coleta de dados a equipe pesquisadora realizou treinamento de 8 horas a respeito da aplicabilidade do instrumento de coleta de dados, seguido de reuniões mensais para discussão da pesquisa e do referencial teórico. Foi obedecido uma escala mensal de atividades que compreendeu a coleta diária dos dados, a tabulação e compilação dos mesmos. A coleta para teste de confirabilidade ocorreu nos trinta dias que antecederam o início da pesquisa, ompreendendo 96,7% de segurança. Os sujeitos foram identificados numericamente em ordem crescente, conforme início da coleta de dados a fim da preservação da sua identidade. O instrumento de coleta de dados sócio demográficos foi aplicado uma única vez por paciente no momento de sua inclusão na pesquisa. O início da coleta foi a partir da liberação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Unioeste, sob o nº260.847. Os dados coletados foram compilados em planilhas do Microsoft® EXCEL 2003 e posteriormente aplicados testes estatísticos, verificando a carga de trabalho existente na unidade em estudo, correlacionando com os recursos humanos existentes.

Resultado e Discussão
O NAS é considerado instrumento fornecedor do quantitativo da carga de trabalho de enfermagem, de modo que, associa o tempo com a complexidade assistencial, identificando a medida da carga de trabalho de enfermagem necessária por paciente nas 24 horas. O instrumento em questão é composto por 23 itens referentes às intervenções terapêuticas e dos cuidados de enfermagem. Para Bochembuzio (2007), 100 pontos NAS, equivalem a 100% do tempo de um profissional de enfermagem necessário nas 24 horas. A mesma autora afirma ainda que, cada ponto NAS equivale há 14,4 minutos, ou seja, 0,24 horas.
Este estudo compreendeu uma amostra de 141 pacientes, totalizando 1605 coletas em 184 dias, com média de 8,7 coletas/dia. O tempo de internação/paciente variou de 01 a 83 dias sendo que a média NAS durante este tempo variou de 50,50 à 150 pontos NAS. O total NAS de internação por paciente foi de 59 à 4971 pontos NAS, com média de NAS diário de 605,2. A equipe de enfermagem constante esperada para atendimento à unidade intensiva neonatal Nivel II de complexidade pelo Ministério da Saúde é de 15 técnicos/auxiliares de enfermagem/dia e 3 enfermeiros/dia. Na unidade em estudo, a escala de funcionários fixa não compreende este quantitativo, tendo em vista absenteísmos por atestados médicos, licenças  e férias, com autorização de escala de hora extras para o complemento desse quantitativo, não disponibilizando desta forma 15% de reserva técnica, tão pouco se consegue o quantitativo adequado com a escala paralela de horas extraordinárias. Assim, somente 28,26% desses dias a equipe de enfermagem estava completa para o atendimento ao serviço de grande complexidade oferecido na instituição e em 71,74% dos dias houve ausência de algum membro da equipe. A carga de trabalho demandada para cada Rn na média geral foi de 16,6 horas de cuidado, com uma média de 8,7 pacientes/dia. Sendo assim, observa-se que se houvesse a capacidade máxima de pacientes durante o estudo, haveria excedência de carga de trabalho pela equipe existente (19,0). Há que se ressaltar que houveram dias em que leitos excedentes foram abertos na unidade para suprir a demanda existente no Centro obstétrico, bem como Rns graves que apresentaram altos escores de gravidade. Tem-se como exemplo o dia 27 de julho de 2013, com 7 recém-nascidos e uma carga de trabalho média por funcionário de 21,7 horas/dia, e dia 29 de julho com 6 recém-nascidos com média 22,46 horas/recém nascido. Outra observação que deve ser apontada é a transferência dos Rns mais estáveis para a Unidade de cuidados intermediários existente na instituição, que possui o mesmo número de leitos da terapia intensiva e não absorve a demanda da unidade em estudo, visto que também admite recém nascidos da maternidade para tratamento de patologias clínicas, do pronto atendimento e do centro obstétrico, com isso não são raras as vezes em que Rns estáveis ocupam leito da terapia intensiva e apresentam scores mais baixos de gravidade.  
A tabela que segue expõe os meses de coleta com as seguintes médias:  NAS, NAS diário, Equipe Nas e Média de recém nascidos internados.
           Tabela 1
Meses
Nas diário
Média Nas
Equipe
 Nas
Nº Rns
Maio
660,7
67,9
16,3
9,7
Junho
599,7
64,1
15,4
9,0
Julho
525,8
71,0
17,0
7,4
Agosto
615,0
72,0
17,3
8,5
Setembro
564,2
71,2
17,1
7,8
Outubro
665,7
67,4
16,2
9,8
Média Estudo
605,2
68,9
16,6
8,7
                Fonte: Elaborada pelos autores

Considerações Finais
O propósito deste estudo fundamentou-se na intenção de evidenciar a importância do dimensionamento de pessoal de enfermagem como instrumento gerencial com bases matemáticas e cientificas. O estudo possibilitou pontuar a carga de trabalho existente na unidade onde foi aplicado o método.
A amostra foi composta por RNs prematuros, com baixo peso de nascimento e instáveis hemodinamicamente.
Percebe-se que no decorrer destes 184 dias, a unidade não trabalhou com os recursos humanos condizentes com o definido pelo Ministério da Saúde.
Salienta-se que a carga de trabalho encontrada no estudo sugere maior quantitativo de pessoal de enfermagem, pois os resultados apontam para um déficit profissional. O profissional enfermeiro esteve ausente em 23% do tempo da coleta de dados. A situação exposta demonstra que muitas atividades que deveriam ser desenvolvidas e executadas prioritariamente por enfermeiros, possivelmente foram realizadas por pessoal de enfermagem de nível médio, ou em outro aspecto, não foram realizadas. 
Quanto ao profissional técnico houve um déficit de 8% durante o estudo, sem levar em consideração os vários dias em que a capacidade máxima da unidade foi ultrapassada para atendimento da demanda existente por Recém-nascidos em eminente risco de morte.
O estudo sugere uma reflexão no que tange aos recursos humanos direcionados na atenção intensiva neonatal, pois a elevada carga de trabalho ali encontrada demonstra que os profissionais vêm sofrendo uma sobrecarga de trabalho para atender a demanda de cuidados imposta pela complexidade do atendimento.
Espera-se que o estudo possa de alguma forma contribuir para a avaliação e readequação de profissionais da enfermagem no intuito de melhorar as condições de trabalho bem como as condições de assistência de enfermagem oferecida aos pacientes.

Referências Bibliográficas
BOCHEMBUZIO, L. Avaliação do instrumento nursing activities score (NAS)
em neonatologia. [tese] São Paulo (SP): Escola de enfermagem da USP; 2007.
CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução 293, de 21 de setembro de 2004. [on line] Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: http://cofen.org.br (15 de julho de 2009).
DIAS, M. C. C. B. Aplicação do Nursing Activities Score – NAS – como instrumento de medida de carga de trabalho de enfermagem em UTI Cirúrgica Cardiológica . 2006. 115 f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
GAIDZINSKI, R. R. Dimensionamento de pessoal de enfermagem em instituições hospitalares. [tese] São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da USP; 1998.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas,
1999.
PASINI, D. et al. Diagnósticos de enfermagem de pacientes em unidades de terapia intensiva. Rev. esc. enferm. USP vol.30. nº3 São Paulo. dez. 1996
QUEIJO AF. Tradução para o português e validação de um instrumento de medida de carga de trabalho de enfermagem em unidade de terapia intensiva: Nursing Activities score (NAS). [dissertação] São Paulo (SP): escola
de enfermagem da USP; 2002.
QUEIJO AF. Estudo comparativo da carga de trabalho de enfermagem em unidades de terapia intensiva geral e especializadas, segundo o Nursing Activities score (NAS). [tese] São Paulo (SP): Escola de enfermagem da USP; 2008.
OLIVEIRA E. M; SPIRI W.C. O significado do processo de trabalho cuidar para o enfermeiro da UTI. São Paulo. Revista Cienc Cuid Saude 2011 Jul/Set.

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