Aplicação
do Nursing Activites Score (NAS) como instrumento de medida da carga de
trabalho da enfermagem na Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do
Hospital Universitário
do
Oeste do Paraná
Grasiely Masotti Scalabrin Barreto1,
Eliane das Graças Dias silva2 , Joanita Poczits Krebs3, Margarida
Luzia Piloni4, Maria Salete Duarte de Arruda5, Marivone
Verlin6.
Ciências
da Saúde, Enfermagem
Resumo
A proposta deste estudo visou correlacionar a
carga de trabalho de enfermagem e suas implicações na qualidade da assistência
ao paciente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Universitário
do Oeste do Paraná (HUOP), segundo o Nursing activities Score (NAS) por ser
considerado instrumento eficaz, conciso e capaz de mensurar a real carga de
trabalho da enfermagem, prestada ao paciente nas 24 horas. O estudo abrangeu
todos os recém-nascidos internados de 01/05/2013 a 31/10/2013. Os dados foram
coletados pelos pesquisadores através da análise dos prontuários dos recém
nascidos. Os dados coletados foram analisados estatisticamente verificando a
carga de trabalho existente na unidade, correlacionado com os recursos humanos
existentes e o preconizado pelo Cofen e Ministério da Saúde. A amostra total foi
de 141 RNs, em 1605 coletas. Os resultados revelam um quantitativo diminuído de
profissionais de enfermagem principalmente enfermeiros, uma vez que não atende
o preconizado na legislação vigente.
Palavras
chaves:
Enfermagem, Carga de trabalho, Neonatologia, Dimensionamento da Equipe de
Enfermagem.
Introdução
Com o advento do desenvolvimento
tecnológico observa-se alterações marcantes na organização do trabalho nas
áreas de saúde, principalmente nas unidades hospitalares. De modo que os
hospitais se tornaram os grandes consumidores dos recursos destinados à saúde
por exercer funções de média e alta complexidade.
As
UTIs no Brasil entre as décadas de 60 e 70 aumentaram as chances de sobrevida
dos pacientes em virtude da estrutura física e recursos humanos mais adequados.
Estas UTIs apresentam alto custo para o sistema de saúde devido a complexidade
dos pacientes obtidos pelos elevados escores de gravidade, utilização de
equipamentos com alta tecnologia e principalmente recursos humanos altamente
qualificados. Para atender a necessidade da manutenção da qualidade da
assistência e a diminuição dos custos, foi criado índices e escores para
classificar a gravidade dos pacientes, ao passo que inicia-se também a
preocupação do dimensionamento da equipe de enfermagem visto ser essa a mais
numerosa nas terapias intensivas.De acordo com Oliveira e Spiri 2011, a carga horária
excessiva, jornadas de trabalhos alternados, escassez de profissionais são
situações que dificultam a prática do cuidado adequado além de gerar absenteísmos
tendo como consequência a baixa qualidade do cuidado e a segurança do
paciente.Todo esse processo necessita primordialmente de uma renovação no
processo de gerenciamento e gestão de recursos humanos. O grande desafio do
gerenciamento consiste em conhecer as necessidades de todas as esferas que
envolvem o cuidado.
O
dimensionamento da equipe de enfermagem foi definida com novos parâmetros
através da resolução 293/2004 do Conselho Federal de Enfermagem, devendo ser
norteada de acordo com as particularidades de cada serviço de saúde. Ainda
determina que na assistência intensiva o paciente demanda de 17,9 horas/paciente
para seu cuidado, além de considerar um índice de mais 15% no quadro de
funcionários destinados a cobertura de férias e licenças.O NAS mede o tempo de
atividades de enfermagem dispensada ao paciente nas 24 horas. A soma de todos
os itens NAS quando alcança um escore de 100%, demonstra que houve a
necessidade de um profissional de enfermagem por plantão/paciente. (Dias, 2006)
O
instrumento NAS é baseado na análise de registros e anotações dos prontuários
de pacientes, avaliando retrospectivamente as atividades de enfermagem
desenvolvidas, (Queijo in Dias, 2006) sendo que o valor é determinado pela
assistência prestada. (Conishi in Dias, 2006)
Os
pacientes em unidades críticas requerem intervenções e cuidados de enfermagem específicos,
por esta razão, o parâmetro mortalidade/morbidade usado com o resultado da
eficácia do trabalho intensivo, foi substituído pela avaliação da carga de
trabalho de enfermagem requerida ao paciente em estado crítico. A melhoria da qualidade da assistência
impõe-se como um desafio aos profissionais enfermeiros que ainda necessitam
efetivar a utilização de instrumentos de trabalho que possibilitem o cuidado
humano com qualidade. A qualidade do cuidado de enfermagem significa a melhor
forma de atender as condições do usuário, através dos cuidados prestados a ele,
levando-se em conta os objetivos, as estratégias e os recursos disponíveis.
(PASINI et al, 1996)Os enfermeiros que
atuam em unidades críticas, devem ter uma base sólida de conhecimentos e
habilidades de pensamento crítico. O pensamento crítico permite a visão do
paciente como um grande quadro, analisando os dados que ele apresenta,
avaliando os problemas que emergem do ambiente de cuidados críticos e
determinando as intervenções apropriadas.
Procedimentos
Metodológicos
O
estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa de campo de corte transversal
prospectivo, descritivo e quantitativo.
O estudo foi
realizado na Uti-Neonatal do HUOP, que possui credenciamento para gestação de
alto risco, sendo referência para 25 municípios da Regional de Saúde, com a
capacidade para 10 leitos.
O estudo ocorreu
com os recém-nascidos admitidos na UTIN independente do diagnóstico, tratamento
(clínico ou cirúrgico), procedência e idade gestacional por um período de 6
meses consecutivos, compreendido entre 01 de maio à 31 de Outubro de 2013. Todos
os RNs internados neste período fizeram parte do estudo, com autorização formal
dos pais através do termo de consentimento.
O
instrumento aplicado para a coleta de dados para a mensuração da carga de
trabalho de enfermagem foi o NAS (traduzido para o português e validado por
Queijo (2002) e complementado por Bochenbuzio, (2007). Foi utilizado um
instrumento para coleta de dados relacionados a condições sócios demográficos e
de nascimento dos sujeitos da pesquisa. Os dados foram coletados pela equipe
pesquisadora através da análise dos prontuários dos recém nascidos. Antes de
iniciar a coleta de dados a equipe pesquisadora realizou treinamento de 8 horas
a respeito da aplicabilidade do instrumento de coleta de dados, seguido de
reuniões mensais para discussão da pesquisa e do referencial teórico. Foi
obedecido uma escala mensal de atividades que compreendeu a coleta diária dos
dados, a tabulação e compilação dos mesmos. A coleta para teste de
confirabilidade ocorreu nos trinta dias que antecederam o início da pesquisa, ompreendendo
96,7% de segurança. Os sujeitos foram identificados numericamente em ordem
crescente, conforme início da coleta de dados a fim da preservação da sua
identidade. O instrumento de coleta de dados sócio demográficos foi aplicado
uma única vez por paciente no momento de sua inclusão na pesquisa. O início da coleta
foi a partir da liberação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da
Unioeste, sob o nº260.847. Os dados coletados foram compilados em planilhas do Microsoft®
EXCEL 2003 e posteriormente aplicados testes estatísticos, verificando a
carga de trabalho existente na unidade em estudo, correlacionando com os
recursos humanos existentes.
Resultado
e Discussão
O NAS é considerado instrumento
fornecedor do quantitativo da carga de trabalho de enfermagem, de modo que,
associa o tempo com a complexidade assistencial, identificando a medida da
carga de trabalho de enfermagem necessária por paciente nas 24 horas. O
instrumento em questão é composto por 23 itens referentes às intervenções
terapêuticas e dos cuidados de enfermagem. Para
Bochembuzio (2007), 100 pontos NAS, equivalem a 100% do tempo de um
profissional de enfermagem necessário nas 24 horas. A mesma autora afirma ainda
que, cada ponto NAS equivale há 14,4 minutos, ou seja, 0,24 horas.
Este
estudo compreendeu uma amostra de 141 pacientes, totalizando 1605 coletas em
184 dias, com média de 8,7 coletas/dia. O tempo de internação/paciente variou
de 01 a
83 dias sendo que a média NAS durante este tempo variou de 50,50 à 150 pontos
NAS. O total NAS de internação por paciente foi de 59 à 4971 pontos NAS, com
média de NAS diário de 605,2. A equipe de enfermagem constante esperada para
atendimento à unidade intensiva neonatal Nivel II de complexidade pelo
Ministério da Saúde é de 15 técnicos/auxiliares de enfermagem/dia e 3
enfermeiros/dia. Na unidade em estudo, a escala de funcionários fixa não
compreende este quantitativo, tendo em vista absenteísmos por atestados médicos,
licenças e férias, com autorização de
escala de hora extras para o complemento desse quantitativo, não
disponibilizando desta forma 15% de reserva técnica, tão pouco se consegue o
quantitativo adequado com a escala paralela de horas extraordinárias. Assim,
somente 28,26% desses dias a equipe de enfermagem estava completa para o
atendimento ao serviço de grande complexidade oferecido na instituição e em
71,74% dos dias houve ausência de algum membro da equipe. A carga de trabalho
demandada para cada Rn na média geral foi de 16,6 horas de cuidado, com uma
média de 8,7 pacientes/dia. Sendo assim, observa-se que se houvesse a
capacidade máxima de pacientes durante o estudo, haveria excedência de carga de
trabalho pela equipe existente (19,0). Há que se ressaltar que houveram dias em
que leitos excedentes foram abertos na unidade para suprir a demanda existente
no Centro obstétrico, bem como Rns graves que apresentaram altos escores de
gravidade. Tem-se como exemplo o dia 27 de julho de 2013, com 7 recém-nascidos
e uma carga de trabalho média por funcionário de 21,7 horas/dia, e dia 29 de
julho com 6 recém-nascidos com média 22,46 horas/recém nascido. Outra observação
que deve ser apontada é a transferência dos Rns mais estáveis para a Unidade de
cuidados intermediários existente na instituição, que possui o mesmo número de
leitos da terapia intensiva e não absorve a demanda da unidade em estudo, visto
que também admite recém nascidos da maternidade para tratamento de patologias
clínicas, do pronto atendimento e do centro obstétrico, com isso não são raras
as vezes em que Rns estáveis ocupam leito da terapia intensiva e apresentam
scores mais baixos de gravidade.
A
tabela que segue expõe os meses de coleta com as seguintes médias: NAS, NAS diário, Equipe Nas e Média de recém
nascidos internados.
Tabela 1
Meses
|
Nas diário
|
Média Nas
|
Equipe
Nas
|
Nº Rns
|
Maio
|
660,7
|
67,9
|
16,3
|
9,7
|
Junho
|
599,7
|
64,1
|
15,4
|
9,0
|
Julho
|
525,8
|
71,0
|
17,0
|
7,4
|
Agosto
|
615,0
|
72,0
|
17,3
|
8,5
|
Setembro
|
564,2
|
71,2
|
17,1
|
7,8
|
Outubro
|
665,7
|
67,4
|
16,2
|
9,8
|
Média Estudo
|
605,2
|
68,9
|
16,6
|
8,7
|
Fonte:
Elaborada pelos autores
Considerações
Finais
O
propósito deste estudo fundamentou-se na intenção de evidenciar a importância
do dimensionamento de pessoal de enfermagem como instrumento gerencial com
bases matemáticas e cientificas. O estudo possibilitou pontuar a carga de
trabalho existente na unidade onde foi aplicado o método.
A amostra foi composta
por RNs prematuros, com baixo peso de nascimento e instáveis hemodinamicamente.
Percebe-se que no
decorrer destes 184 dias, a unidade não trabalhou com os recursos humanos condizentes
com o definido pelo Ministério da Saúde.
Salienta-se que a carga
de trabalho encontrada no estudo sugere maior quantitativo de pessoal de
enfermagem, pois os resultados apontam para um déficit profissional. O profissional enfermeiro esteve ausente em
23% do tempo da coleta de dados. A situação exposta demonstra que muitas
atividades que deveriam ser desenvolvidas e executadas prioritariamente por
enfermeiros, possivelmente foram realizadas por pessoal de enfermagem de nível
médio, ou em outro aspecto, não foram realizadas.
Quanto ao profissional
técnico houve um déficit de 8% durante o estudo, sem levar em consideração os
vários dias em que a capacidade máxima da unidade foi ultrapassada para
atendimento da demanda existente por Recém-nascidos em eminente risco de morte.
O estudo sugere uma
reflexão no que tange aos recursos humanos direcionados na atenção intensiva
neonatal, pois a elevada carga de trabalho ali encontrada demonstra que os
profissionais vêm sofrendo uma sobrecarga de trabalho para atender a demanda de
cuidados imposta pela complexidade do atendimento.
Espera-se que o estudo
possa de alguma forma contribuir para a avaliação e readequação de
profissionais da enfermagem no intuito de melhorar as condições de trabalho bem
como as condições de assistência de enfermagem oferecida aos pacientes.
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processo de trabalho cuidar para o enfermeiro da UTI. São Paulo. Revista Cienc
Cuid Saude 2011 Jul/Set.
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