“Uma nova geração começa a frequentar os
consultórios pediátricos desafia os médicos. São crianças prematuras – que
nasceram antes da 37ª semana – e que podem ter o desenvolvimento afetado por
esta condição. Segundo a endócrino-pediatra Margaret Boguszewski, professora do
departamento de pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esta
geração tem hoje cerca de 10 anos de idade: “O problema, que não tínhamos 20
anos atrás, é saber se os prematuros irão apresentar problemas no
desenvolvimento até tornarem-se adultos”, diz.
Todos os anos, segundo o Ministério da Saúde,
nascem no Brasil cerca de 3 milhões de crianças, 10% delas prematuras. Desse
total, os problemas de crescimento podem afetar em torno de 30 mil. “Nos
próximos anos, a demanda por atendimento dessas crianças será muito grande, até
pelo aumento desse tipo de nascimento devido ao alto número de gestações de
gêmeos e de fertilizações com quatro ou cinco embriões de cada vez”, explica
Margaret.
Durante um ano e meio ela analisou o banco de dados
de um laboratório farmacêutico americano com informações sobre uma pesquisa
mundial em que 3.215 crianças nascidas prematuras com idade entre seis e sete
anos foram medicadas com hormônio do crescimento. Os resultados desta análise
internacional, que mereceu recentemente uma matéria no Journal of Clinical
Endocrinology & Metabolism, órgão de divulgação da Sociedade Americana de
Endocrinologia, e a observação do crescimento das crianças prematuras sem
intervenção de medicamentos no HC/UFPR, foram abordadas por ela em entrevista
para a Gazeta do Povo. O período de crescimento pós-nascimento prematuro não
é tão favorável quanto o que ocorre na barriga da mãe: a criança sai de um
ambiente uterino equilibrado e é exposta a intervenções externas e fica
suscetível a infecções. Quando a situação estabiliza, muitas delas não
recuperam a capacidade de se desenvolver plenamente.
” A
dificuldade no crescimento não é exclusividade de quem tem deficiência deste
hormônio, mas sim pela condição de prematuridade e pela necessidade de cuidados
externos. Crescem menos aquelas crianças que além de prematuras são
consideradas pequenas demais para a idade gestacional aferida no parto: um
nascido aos seis meses, que deveria pesar um quilo, e que ao invés disso nasce
com apenas 800 gramas, por exemplo.
A
análise do banco de dados foi realizada com crianças prematuras que não
recuperaram a capacidade de crescimento durante os anos e que, por isso, tinham
de usar o hormônio. Um dos fatores da baixa estatura era o fato de terem
nascido prematuras. Nós analisamos o primeiro ano de tratamento dessas crianças
e vimos que o seu ritmo de crescimento chegou a dobrar com a aplicação do
hormônio.
Foi
usado um medicamento sintético igual ao hormônio de crescimento produzido pelo
organismo. Ele foi injetado diariamente nas crianças analisadas por no mínimo
um ano. Esta não é uma intervenção capaz de ser feita de forma massiva em toda
uma população.
Uma
primeira geração de prematuros são adultos jovens na faixa de 20 anos e que
provavelmente não tiveram intervenções. Já se sabe que existe o risco de um
crescimento inadequado, mas a intervenção foi pensada para esta nova geração,
pois o tratamento do prematuro é uma ação desta década.
Porque
há um período mínimo para que ela mostre se tem condições de recuperar o
crescimento de forma espontânea. Entre os dois e três anos de idade, a média de
crescimento é de 12 centímetros. Se ela cresce mais do que isso, houve
recuperação espontânea. Mesmo que o crescimento seja menor, é preciso aguardar.
Na faixa de cinco a seis anos, já foi dado o tempo de recuperação espontânea
necessária para ver se o ritmo de crescimento é baixo.
Até
algum tempo existia a certeza de que a criança prematura tinha que ser
superalimentada: havia fórmulas lácteas especiais para prematuros, com carga
calórica e proteica maiores. Hoje não é mais assim. É preciso deixar a criança
se recuperar sem sobrecarregá-la, afinal seu organismo é imaturo. O importante
é garantir que o bebê não desenvolva doenças secundárias que possam atrapalhar
seu desenvolvimento como problemas intestinais e respiratórios. É preciso
manter a criança bem nutrida, mas dar chance para que ela se recupere sem
forçá-la.
O
hormônio do crescimento é importante a vida toda. O bebê produz o hormônio
ainda no útero, mas ele tem um papel mais intenso a partir do segundo ano de
vida. No primeiro ano de idade, o que mais influencia o crescimento do bebê é a
questão nutricional e de saúde. Depois que paramos de crescer, por volta dos 20
anos, a produção do hormônio diminui, mas não para, pois todos precisam dele
para regular o metabolismo, manter a quantidade de massa magra e também de
gordura, controlar o colesterol no sangue e manter a densidade óssea.”
Fonte:
http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?id=1134707, publicado em
08/06/2011 | DÂMARIS THOMAZINI, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
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