A
incidência da hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido (HPPN) é
estimada em cerca de 2 por 1000 nascidos vivos. HPPN é caracterizada por
aumento da resistência vascular pulmonar (RVP) associado com shunt da direita
para a esquerda através do forame oval e/ou canal arterial. Isto está associado
com o desequilíbrio da relação ventilação/perfusão, o que consequentemente
resulta em importante hipoxemia.
A
HPPN é uma síndrome clínica que ocorre associada com diversas doenças cardiorrespiratórias
como aspiração de mecônio, sepse, pneumonia, síndrome de angústia respiratória
aguda, asfixia perinatal, hérnia diafragmática congênita e hipoplasia pulmonar.
Apesar
dos avanços da assistência perinatal nas últimas décadas, a HPPN continua a ser
um problema clínico muito importante que contribui significantemente para a
mortalidade e morbidade dos recém-nascidos prematuros e de termo. Esta condição
apresenta ainda uma alta morbidade e uma taxa de mortalidade que gira em torno
de 10-20%, apesar dos grandes avanços da assistência perinatal nas últimas
décadas. Para que se possa oferecer o tratamento adequado a estes pacientes é
fundamental conhecer os mecanismos que regulam o tônus vascular pulmonar fetal
e pós-natal.
1.
Etiologia
A
hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido foi descrita pela primeira
vez em 1969, sendo conhecida pelo termo persistência da circulação fetal (PCF),
é uma entidade clínica caracterizada por resistência vascular pulmonar
aumentada, produzindo pressão elevada da artéria pulmonar, curto-circuito
direito esquerdo através do canal arterial e/ou forame oval e hipoxemia
sistêmica grave. (GUARESCHI et al, 2003)
De
acordo com Corrêa et al (2006), a HPP caracteriza-se pela ausência da
diminuição fisiológica da pressão da artéria pulmonar ao nascimento, com
consequente manutenção de um shunt D-E pelo canal arterial e/ou pelo forame
oval, provocando hipoxemia refratária a oxigenoterapia.
No
feto a pressão pulmonar é superior à pressão na circulação sistêmica. Logo após
o nascimento, com a distensão do pulmão, ocorre uma queda na pressão da artéria
pulmonar e ela se torna mais baixa que a pressão na artéria aorta.
Nos
pacientes com hipertensão pulmonar persistente, logo após o nascimento, não há
a queda esperada da pressão na circulação pulmonar e ela se mantém acima da
sistêmica por muito tempo após o parto. Em função de a pressão arterial
pulmonar ser superior à pressão sistêmica, ocorre um shunt direito-esquerdo
pelo canal arterial e/ou pelo forame oval (MIURA, 1997, p150).
A
pressão na artéria pulmonar do feto está em torno de 60-80mmhg, caindo para
18-20 mmHg (começa a cair a partir de 6 a 8h de vida) ao final do primeiro dia
de vida, e continua caindo por um certo período de tempo. No RN com HPP, a
pressão na artéria pulmonar está ao redor de 70-80 mmHg, superior à pressão
sistêmica, que está ao redor de 50-55mmHg.
De
acordo com Macdonald et al (2007, p325), a hipertensão pulmonar resistente do
recém nascido resulta de uma desordem na transição normal da circulação
fetal-neonatal. O distúrbio caracteriza-se por persistência da elevação da
resistência vascular pulmonar (RVP) ao nascer. A conduta otimizada, o
tratamento com óxido nítrico inalante e a oxigenação por membrana extracorpórea
aumentam a taxa de sobrevida dos RN com HPP. Os sobreviventes da hipertensão
pulmonar do recém-nascido estão sob risco de sequelas, incluindo doença
pulmonar crônica, deficiências do desenvolvimento neurológico, deficiência
auditiva e hemorragia ou infarto intracranianos.
Segundo
Araújo (2008),
A
incidência da HPPN é relatada como sendo 1-2 por 1000 nascidos vivos, porém a
cesárea pode elevar esta incidência até 1 por 27. HPPN está associada a uma
morbidade e mortalidade significativas e não se restringe a recém-nascidos a
termo ou pós-termo com aspiração de mecônio ou sepse.
2.
Fisiopatologia
Cloherty
et al (2005, p518) descrevem que a transição normal ocorre em quatro fases: a
fase in útero, a fase imediata que ocorre nos primeiros minutos após o
nascimento, a fase rápida nas primeiras 12 a 24 horas e a fase final, que
requer dias ou meses para ser concluída.
A
HPP pode ocorrer secundariamente a alterações na estrutura vascular, com
hiperplasia e hipertrofia da camada muscular, na vigência de redução do leito
vascular pulmonar e, principalmente devido à manutenção do tônus vascular
aumentado, que representa a maior parte dos casos.
Do
ponto de vista anatomopatológico, observa-se, no RN com HPP, uma extensão da
musculatura lisa ao longo das artérias pulmonares, indo até a zona
intra-acinar, incluindo alvéolos, ducto alveolar e inicio dos bronquíolos
respiratórios, com consequente aumento da resistência pulmonar e relativa
obstrução do fluxo sanguíneo (CORRÊA et al, 2006)
Segundo
LOPES (2005), alguns estudos têm mostrado que a redução do número de alvéolos e
artérias pulmonares nestas situações são fatores de mau prognóstico e explicam
a falta de resposta aos tratamentos realizados.
Estudos
anatômicos realizados em pulmões de RNs com síndrome de aspiração de mecônio
sugerem que algumas alterações vasculares pulmonares provavelmente já tenham
ocorrido na vida fetal. A mais marcante destas alterações é a presença de
intensa muscularização de pequenas artérias, sendo que estas células musculares
estão circundadas por uma intensa camada elástica.
A
ingestão materna de antiinflamatórios inibidores da síntese de prostaglandinas
bem como a ocorrência de curtos períodos de hipóxia fetal pode resultar também
em alterações estruturais vasculares pulmonares. Ainda, o fechamento ou
constrição fetal do canal arterial podem também acarretar estas mesmas
alterações vasculares pulmonares com quadro clínico pós-natal de HPPRN. Por
outro lado, os distúrbios pós-natais como hemorragia, hipoglicemia, aspiração,
hipóxia, podem resultar em uma falha da dilatação de vasos pulmonares
anatomicamente normais, bem como em disfunção ventricular esquerda, o que
contribuiria para o quadro de HPPRN.
3.
Quadro clínico
Os
sintomas iniciam-se maioritariamente nas primeiras 12 horas de vida e tornam-se
rapidamente progressivos na falta de tratamento precoce e adequado
As
manifestações clinicas consideradas maiores são a hipoxemia refratária ao
aporte de oxigênio e a labilidade na oxigenação.
Além
destas pode haver cianose, causada pelo shunt D-E extra pulmonar (canal
arterial patente e/ou forame oval), taquipneia, tiragem, gemido, taquicardia e
acidose. Podem inclusivamente, existir sinais de insuficiência cardíaca
congestiva e choque como consequência das alterações miocárdias.
A
HPP ocorre em RN a termo e pós-termo, com histórias de complicações perinatais,
líquido amniótico tinto de mecônio e asfixia perinatal. Geralmente esses RNs
mostram dificuldade respiratória desproporcional ao quadro hipoxêmico. Pode se
observar sopro em
decorrência da insuficiência tricúspide.
4.
Diagnóstico
O
diagnóstico é estabelecido com base na história, exame físico e exames
auxiliares de diagnóstico.
1.
Avaliação
Laboratorial
(Hemograma, glicemia, calcemia e magnesiemia) – Permite o diagnóstico de
situações que causam/favorecem a persistência de HPP, como anemia, leucocitose,
hipoglicemia, hipocalcemia e hipomagnesiemia;
2.
Gasometria
Arterial – Demonstra
hipoxemia, acidose e hipercapnia;
3.
Raios-X
de Tórax – Não se
observam anormalidades características. Nos casos graves, podemos observar
hipofluxo pulmonar, secundário à vasoconstrição arteriolar pulmonar.
4.
Ecocardiograma
Bidimensional com Doppler colorido
– Permite a visualização direta do shunt, bem como avalia a magnitude da
hipertensão, é um componente essencial na avaliação inicial e durante o
tratamento de um RN com insuficiência respiratória hipoxemica;
5.
Gradiente
pré e pós ductal –
Mais utilizado para analisar a resposta à intervenção e não para diagnóstico.
6.
Hiperventilação/Hiperoxemia – Não é mais usada hiperventilação
agressiva, devido ao risco de volutrauma e comprometimento hemodinâmico quando
não existe doença pulmonar. Havendo doença pulmonar, há melhora na PaO2
(pressão parcial de oxigênio), devido ao recrutamento dos alvéolos.
5.
Tratamento
O
enfoque do tratamento incide na prevenção e correção de situações que
causam/favorecem a persistência da hipertensão pulmonar, de modo a intervir no
processo de desenvolvimento do ciclo vicioso.
Assim,
os objetivos do tratamento são: Corrigir as causas subjacentes, diminuir a RVP,
de modo a aumentar o fluxo sanguíneo pulmonar, manter adequada a pressão
arterial sistêmica, reverter o shunt D-E, manter adequada a oxigenação
dos tecidos e minimizar as lesões pulmonares induzidas pela ventilação.
As
medidas terapêuticas são divididas em dois subgrupos principais, de suporte e
específicas:
O
tratamento de suporte inclui a correção de situações concomitantes que
favorecem e perpetuam a hipertensão pulmonar, nomeadamente, hipotermia,
hipoglicemia, hipocalcemia, hipomagnesiemia, anemia, policitemia, infecção,
hérnia diafragmática congênita, acidose e hipotensão sistêmica.
O
tratamento específico compreende o suporte ventilatório (suplementação de oxigênio
a 100% e ventilação mecânica, se necessário), os vasodilatadores pulmonares
(Óxido nítrico inalado, sildenafil, tolazolina, sulfato de magnésio,
prostaciclina, etc), a reposição de surfactante e a oxigenação por membrana
extracorporal (técnica de suporte cardiorrespiratório complexo).
A
manutenção de uma oxigenação adequada é o objetivo primordial do tratamento.
FONTE: Trabalho apresentado no curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil – RS, como parte da avaliação da disciplina de Prática Supervisionada em Saúde do neonato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário