Pneumonias
são infecções que se instalam nos pulmões, órgãos
duplos localizados um de cada lado da caixa torácica. Os pulmões fazem parte do
sistema respiratório constituído também pelas cavidades nasais, faringe
(estrutura comum aos aparelhos digestivo e respiratório), laringe, traqueia,
brônquios, bronquíolos e alvéolos.
Respirar
é essencial para a vida. O ar penetra pelas fossas nasais (onde é aquecido e
umidificado) que são recobertas por cílios cuja finalidade é reter as
partículas mais espessas de poeira. Depois, o ar desce pela faringe, passa pela
laringe e chega à traqueia, que é formada por anéis de cartilagem
horizontalmente dispostos.
A
traqueia se divide em dois tubos, os brônquios, que vão dar nos pulmões. Dentro
dos pulmões, esses tubos continuam se dividindo em ramificações cada vez mais finas
que terminam nos alvéolos, pequenas bolsas altamente vascularizadas onde ocorre
a troca gasosa. Entre um alvéolo e outro, existe um espaço chamado interstício.
A
pneumonia pode acometer a região dos alvéolos pulmonares e, às vezes, os
interstícios. Nas pessoas idosas e nas crianças, o quadro pode ser mais grave e
requer cuidados específicos. Desde que convenientemente tratadas, as pneumonias
não deixam sequelas.
Basicamente,
as pneumonias são provocadas pela penetração de um agente infeccioso ou irritante
no espaço alveolar, onde ocorre a troca gasosa e que deve estar sempre muito
limpo, sem nada que impeça o contato do ar com o sangue.
Só
para ter uma ideia, se esticarmos o tecido dos dois pulmões de um adulto, o
tamanho da superfície alveolar, que precisa estar o mais limpa possível,
repito, equivale à área de uma quadra de tênis. A presença de uma substância
estranha, de uma bactéria, um vírus ou um agente irritante, provoca uma reação
inflamatória intensa – a pneumonia – que tem por objetivo expulsar o invasor.
A
pneumonia pode ser causada por bactérias, vírus, fungos, substâncias
inorgânicas e por reações alérgicas. A forma mais comum é chamada de pneumonia
da comunidade, uma infecção provocada por bactérias e contra a qual existe
tratamento específico com antibióticos.
Quando
o agente causador for um vírus, embora alguns casos admitam tratamento
medicamentoso, a maioria das pneumonias é auto limitada, ou seja, o organismo
elimina o vírus espontânea e naturalmente.
A
grande dificuldade da pneumonia é determinar o agente causador. Quando se faz o
diagnóstico, que é clínico, na maior parte das vezes, não importa fazer a
diferenciação entre bacteriana, viral ou fúngica. Ela só interessa quando o
paciente não responde ao tratamento com antibiótico de amplo espectro.
Pode-se
dizer que as pneumonias por fungos têm algumas características próprias, porque
estão restritas a um grupo mais ou menos conhecido de pacientes portadores de
doenças prévias e, geralmente, com o sistema imunológico debilitado. Já as pneumonias
bacterianas e virais, do ponto de vista médico e radiológico, comportam-se de
forma muito semelhante. Como se sabe que os principais agentes são os Streptococcus
pneumoniae, o micro plasma, a clamídia e o Hemophilus, muitas
vezes, introduz-se o tratamento com antibióticos que cobrem todo esse espectro
sem necessidade de identificar o agente causador.
Na
pneumonia a febre costuma ser alta, acima de 38º. Febre de 37,5º, aquela que
precisa do termômetro para verificar se a pessoa está mesmo febril, não é o
sintoma mais frequente das pneumonias.
Além
da tosse, é muito comum a pessoa (principalmente as de mais idade e as crianças
pequenas) com pneumonia apresentar confusão mental, febre, alteração da pressão
arterial, mal-estar generalizado, falta de ar e secreção purulenta. Na maioria
dos casos, a degradação das células de defesa produz muco purulento de
coloração esverdeado-amarelada que vai ser eliminado pela tosse.
Dor
torácica é outro sintoma importante. O movimento de encher e esvaziar os
pulmões, próprio da respiração, provoca dor porque eles estão inflamados.
Toxemia intensa e um estado de prostração, de moleza, próprios dos quadros
infecciosos também estão entre os sintomas das pneumonias.
É
importante lembrar que essa doença pode ter evolução muito rápida. A pessoa
está bem, mas, dali a algumas horas, a infecção se manifesta e é preciso
procurar atendimento médico sem demora.
Existem
alguns fatores que facilitam o aparecimento das pneumonias. O primeiro,
o mais importante e o mais frequente, é o fumo. Todo tabagista corre risco
maior de ter a doença, porque o fumo, por si só, causa uma reação inflamatória
que facilita a entrada de outros agentes agressores nos pulmões. O segundo é o
álcool. Pessoas que bebem têm a imunidade diminuída e uma diferente capacidade
de coordenação do sistema respiratório.
Outro
fator de risco a considerar é a existência de uma doença pulmonar prévia, por
exemplo, a bronquite crônica, também presente nos fumantes. Por fim, embora
menos comum, o comprometimento do sistema imunológico facilita o aparecimento
de pneumonias.
Quem
já não ouviu, muitas vezes na vida, as pessoas dizerem: “Cuidado, está frio.
Coloque um agasalho para não pegar uma pneumonia” ou “Feche a janela. Essa
corrente de ar é um veneno. Você acaba tendo uma pneumonia”. Quadros virais da via aérea superior,
ou seja, os resfriados comuns, podem aumentar o risco de a pessoa ter
pneumonia. Normalmente, esses quadros estão associados a mudanças bruscas de
temperatura. Sair de um lugar muito quente e entrar num ambiente muito frio, ou
praticar esporte e ficar com a roupa molhada num lugar frio podem ser fatores
de risco para resfriados e pneumonias.
Outro
dado importante para respaldar esses conselhos é que, nos meses de inverno, os
casos da doença são mais frequentes. No Brasil, os números do Data-SUS são
muito claros nesse aspecto.
Em
última análise, portanto, tais conceitos têm algum sentido. Não é obrigatório,
mas expor-se a mudanças bruscas de temperatura pode ter alguma relação com a
doença.
O
ar condicionado também é considerado um fator de risco para a pneumonia. O
processo de refrigeração torna o ar muito seco e isso favorece a penetração dos
germes na parte distal da árvore brônquica. Além disso, como o aparelho recicla
o ar do ambiente, se alguém estiver eliminando vírus ou bactérias durante a
respiração, mesmo que não tenha pneumonia, esses micro-organismos disseminam-se
muito depressa e o ar-condicionado funciona como vetor de transmissão.
E
mais: através da fala e da respiração, eliminamos partículas muito pequenas, de
2 a 5 micras, carregadas das substâncias existentes nos alvéolos.
Essas
partículas ficam em suspensão, flutuando no ar. São tão pequenas que não se
depositam por gravidade e o ar-condicionado encarrega-se de espalhá-las por
todo o ambiente e elas funcionam como veículo de transmissão. Deve beber muita
água. Aliás, o melhor remédio para o pulmão é beber pelo menos dois litros de
água por dia. Como o muco é um mecanismo de defesa do pulmão e seu principal
hidratante, beber água facilita a eliminação de qualquer elemento estranho que
penetre nos pulmões.
DIAGNÓSTICO
Febre
alta, fraqueza, um pouco de toxemia, dor no peito, tosse com secreção
purulenta, esverdeada ou amarelada, não são sintomas suficientes para o
diagnóstico de pneumonia.
É preciso caracterizar se a infecção está localizada nos pulmões. O primeiro
passo para estabelecer o diagnóstico é o exame clínico do paciente. Com
frequência, auscultando os pulmões, ouve-se um som característico provocado
pela secreção no alvéolo. Esse som conhecido por estertor crepitante é sinal de
lesão focal nesses órgãos. Ele é provocado pela entrada de ar no alvéolo que
contém secreção e tende a colabar quando fecha.
Como
produz um chiado semelhante ao do velcro ao ser aberto, por analogia, também é
chamado de estertor em velcro.
Nessas
circunstâncias, é fundamental fazer uma radiografia para confirmar a inflamação
nos alvéolos e verificar se há outros fatores de risco associados, tais como o
acúmulo de líquido no espaço compreendido entre os pulmões e a caixa torácica
resultante da reação inflamatória ou a cavitação, ou seja, a presença de uma
cavidade provocada pela reabsorção do parênquima pulmonar. Esses achados
radiológicos conferem maior ou menor gravidade à pneumonia e são fundamentais
não só para o diagnóstico, mas para determinar o prognóstico.
CONTÁGIO E EVOLUÇÃO
Diferentes
do vírus da gripe, que é altamente infectante, as bactérias que causam
pneumonia estão presentes no ar e não são transmitidas com facilidade.
Portanto, não é necessário isolar o paciente.
Desde
que o antibiótico esteja correto, o quadro de febre e de toxemia melhora em
três ou quatro dias e os sintomas desaparecem entre sete e dez dias a contar do
início do tratamento, embora a radiografia possa mostrar o infiltrado até um
mês depois de o paciente estar curado. Por isso, é importante dizer que o
critério para declarar a cura é primeiro clínico e depois radiológico.
GRAVIDADE DA DOENÇA
Existem
alguns marcadores da gravidade da doença, que compõem escores e representam dados
objetivos para avaliação do paciente. A internação hospitalar é necessária
quando a pessoa é idosa, tem febre alta ou apresenta alterações clínicas
decorrentes da própria pneumonia, tais como: comprometimento da função dos rins
e da pressão arterial, dificuldade respiratória caracterizada pela baixa
oxigenação do sangue, porque o alvéolo está cheio de secreção e não funciona
para a troca de gases.
E
não é só: baixa saturação arterial de oxigênio leva ao aumento da frequência
respiratória, o que provoca queda de pressão e alteração do nível de
consciência.
A
pneumonia das pessoas mais velhas é sempre mais grave, porque geralmente, está associada às
complicações. Muitas vezes, as pessoas são internadas porque o quadro requer
aplicação de antibiótico por via endovenosa, durante 48 ou 72 horas, uma vez
que a absorção por boca pode estar comprometida. Não é incomum pacientes com
pneumonia adquirida na comunidade (que é diferente da pneumonia hospitalar)
serem transferidos para UTI para receberem cuidados especiais.
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